Por Jeison Giovani Heiler
Neste texto quero discutir as distintas formas de violência na sociedade.
A imprensa tem noticiado há algum tempo cenas bárbaras que se descortinam em plena sociedade digital. Fácil constatá-lo: ao digitar os descritores <<ladrão>> e <<mão decepada>> no maior site de buscas global você leitor constatará o fato ao qual me refiro.
Neste texto quero discutir as distintas formas de violência na sociedade.
A imprensa tem noticiado há algum tempo cenas bárbaras que se descortinam em plena sociedade digital. Fácil constatá-lo: ao digitar os descritores <<ladrão>> e <<mão decepada>> no maior site de buscas global você leitor constatará o fato ao qual me refiro.
Porém, nas últimas semanas vivenciamos atrocidades maiores. Um adolescente flagrado na tentativa de furto de uma bicicleta foi amordaçado e tatuado na testa com um rótulo que antes disso carregava consigo como estigma. E que a partir daí tornou-se textual, explícito¹.
Um fato que traz em si não somente a violência dos
indivíduos que dele tomaram parte como co-partícipes. Na verdade, na sua
execução, ele mobiliza a violência de toda uma sociedade. Trata-se da aplicação
de uma pena baseada no princípio de Talião afastado das legislações modernas
ocidentais deste a antiguidade. Não somente isto. Trata-se do julgamento e
execução desta pena em forma ainda pior do que antiguidade, quando os indivíduos
tinham ainda o direito ao julgamento e à defesa.
Este é um fato que poderia ser
analisado e compreendido como bárbaro por muitas vertentes. Do ponto de vista
jurídico, é desnecessário dizer que pode constituir inclusive crime de tortura. Para dizer somente o mínimo. Como explicar que a reação á violência é
ainda mais violenta. Como explicar o fato de que, a esta altura, provavelmente
a maior parcela da população esteja aplaudindo e regojizando-se com a ação dos tatuadores/torturadores. Necessário dizer, com algum prazer primitivo de vingança realizada.
É fato que a violência é um fenômeno
crescente nas sociedades modernas. Mas isto não pode justificar em nenhuma
hipótese que retornemos à barbárie. Este fato noticiado largamente pela imprensa é digno de Neandertais arqueados balbuciando e
grunhindo em volta de uma fogueira.
Desenvolveram-se algumas modificações na
história da humanidade de lá pra cá. Dentre as quais uma série de signos utilizados para que os indivíduos possam
empreender algum tipo de comunicação mais sofisticada. Além disso desenvolveram
a moeda e desde que ela deixou de pesar mais que 10 quilos favoreceu-se que pudesse ser acumulada por qualquer um.
A linguagem que foi desenvolvida com
grande nível de sofisticação para que os seres humanos pudesse empreender algum
tipo de comunicação parece cair em obsolescência com extrema facilidade. Contudo, jamais seriamos capazes de admitir a vida sem a moeda e sua
possibilidade de acúmulo.
Assim, o que nos faz diferentes, de
verdade, dos selvagens de outrora, é o mero fato de que somos incapazes de
viver sem o dinheiro. Apenas isso. O fato noticiado acima deixa claro que
esses indivíduos não se importariam muito em andar pelas ruas com tacapes em punho. Tampouco se importariam com a supressão completa e absoluta de
qualquer espécie de linguagem que pudesse fazer com que os indivíduos se
comunicassem a respeito de seus problemas, tão comuns, afinal, e suas diferenças.
Ou senão, que tipo de escala valorativa autoriza que uma bicicleta, ou qualquer outro tipo de bem que possa ser convertido em moeda, tenha maior apreço que a vida e a dignidade humana?
Pior é que o alvo desta espécie de abordagem são justamente aqueles indivíduos alheados em absoluto de qualquer possibilidade de acúmulo monetário. Tão diferentes dos criminosos da Lava-Jato recebidos com selfies e bajulação.
Talvez porque tenhamos perdido a nossa capacidade de comunicação, tenhamos perdido a capacidade de perceber todas as formas de violência presentes em nosso mundo confuso. Como diz Hannah Arendt, só a violência é muda. Calados assistimos as mentiras deslavadas do presidente da Nação. Calados comemoramos a miséria do "menor infrator". Calados acompanhamos o desmanche da democracia como se fosse bom. Como se não fosse o maior ato de violência que poderíamos suportar.
Talvez porque tenhamos perdido a nossa capacidade de comunicação, tenhamos perdido a capacidade de perceber todas as formas de violência presentes em nosso mundo confuso. Como diz Hannah Arendt, só a violência é muda. Calados assistimos as mentiras deslavadas do presidente da Nação. Calados comemoramos a miséria do "menor infrator". Calados acompanhamos o desmanche da democracia como se fosse bom. Como se não fosse o maior ato de violência que poderíamos suportar.
¹ - http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2017/06/1892182-adolescente-diz-ter-implorado-para-nao-tatuarem-ladrao-em-sua-testa.shtml
"Malária, maldita malária"
ResponderExcluirA maior violência é a ignorância...
ResponderExcluirOu é desta que descende a violência?